Daniela

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Eu não moro mais aqui (ou: Marina me explicou tudo)



Essa noite eu tive um sonho por deveras esquisito, para não dizer tenebroso...
Tudo começava num salão estranho onde acontecia uma reunião que não sei bem definir ser um culto, uma reunião espírita, uma palestra religiosa. De repente, não mais do que de repente eu começava a flutuar e ser jogada para baixo, para cima e para os lados como um balão se esvaziando depois de ser soprado. A sensação de flutuar deveria ter sido boa, mas de maneira nenhuma foi. Enquanto eu flutuava com a ventania que atingia somente a mim, eu entendi que estava possuída, mas que ninguém parecia se importar. As pessoas seguiam indiferentes até que uma mulher saiu da palestra, me agarrou pelo pescoço como num mata-leão e começou a rezar enquanto eu chorava e tentava entender porque logo eu estaria possuída, e mais ainda... o que estaria me possuindo. 
Bem, a desconhecida, porém caridosa alma, me largou, e as coisas se acalmaram. Ela me disse que se eu quisesse depois poderia ser feito um exorcismo. Respondi a ela que queria que fosse feito naquele momento.
Então, as coisas começaram a ficar mais complexas e por demais incompreensíveis. A Wandréa (e nem me perguntem o porquê dela neste contesto) apareceu para proceder o exorcismo. Sentamos num cercadinho feito por cordas, em posição de ioga. E quando ela tomava meu pulso radial, o cenário instantaneamente mudou por inteiro.
Passamos para um ambiente externo. Era um dia de sol. E não demorou para eu perceber que se tratava de um cemitério. Havia uma sepultura aberta com um caixão branco fechado do lado de fora, e uma cruz de concreto quase do meu tamanho. Quando mexi no caixão chegando-o para o lado vi meu nome escrito, como se escreve em cartão de crédito ou de banco. Foi aí que pensei: meu caixão... nossa como é simples... pra depois questionar: bom, pra quê um caixão chick se vai pra debaixo da terra mesmo? Eu mexi na cruz para tirar uma foto com ela, mas ela era bem pesada e quase caiu quando pendeu. Nesse exato momento a noite se fez escura e ainda no cemitério. Foi quando apareceu Dra. Ana Lúcia (sem a mínima razão de aparecer nos meus sonhos) vestindo uma camisa de seda azul e explicando sobre a competência das mais variadas classes de espíritos e almas penadas.
Quando nada mais parecia fazer sentido, como num passe de mágica já era dia de novo. E como que numa viagem de LSD ou um livro de Kafka, eu estava andando num banco que tinha na casa da minha vó Lerite como se fosse uma bicicleta, pela rua onde morei por 23 anos, passando em frente a casa de tia Julinha (como era quando a gente se mudou para a rua). Encontrei então a Alessandra, que olhava para a casa como quem procura a campainha. Eu saltei do banco, fui em direção a ela, peguei no rosto, dei um beijo e um abraço apertado. Nessa hora eu pensei: era isso que faltava, eu precisava encontrá-la para me despedir. Mas no começo ela só me abraçava com um braço e não dizia nada. Me lembro de pensar: não, por favor não faça isso, me abraça direito, porque eu sabia que não passaria dos 37.


Neste exato momento Marina entra no quarto e me acorda pra gente tomar café e ir para o trabalho dela. Lógico, como eu sempre faço, contei o sonho pra ela nos mínimos detalhes, ainda super angustiada, pois o astral do sonho fora tenebroso. Ela escutou tudo e numa simplicidade contundente começou a falar...
"Amiga, isso significa simplesmente que você se desligou da cidade. Todas as pessoas que apareceram fazem parte da sua realidade em Brasília. Não tinha ninguém de fora. Com certeza você não tem mais nada que te ligue a esse lugar. A Alessandra apareceu refletindo a angústia que você ficou por não tê-la visto. Morrer com 37 anos pra mim significa que você enterrou a vida e as referências que tinha com a cidade que você nasceu e cresceu. Não há mais nada que te ligue ou te prenda aqui".


E ela tem a mais absoluta razão. 2009 quando estive aqui em dezembro, vim para o aniversário dela, vim com um grande problema que tinha para resolver com o Brb. Esse ano quando vim passar as festas de fim de ano também vim resolver minha situação com o COREN-DF. Realmente... os dois problemas foram resolvidos e realmente não há mais nada que me prenda ou me ligue a essa cidade. Quando vier a Brasília, será única e exclusivamente para ver as pessoas que amo, mas não há nada além de pessoas!


Brasília, 07 de janeiro de 2011
(Horas antes de voltar para a Paraíba)

Um comentário: