Daniela

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Cerf Voulant


Minha alma é múltipla e meu espírito andarilho. Meu coração arde como fogo enquanto meu corpo chora. A chama que brilha forte certamente chamará quem estar por vir. Para cada dia que fico sem ti uma noite segue um dia errante e enquanto meu lábio cala minha face fala, meu ego esconde, meu vinho bebes, meu infante chega, meu pulso inflama. Para cada lugar que vou um dos meus encontro. Num laço perfeito somente os que são hão de encontrar a morada nas veredas largas do meu destino incerto. Vem junto e caminha ao lado, no lado ainda que distante, de tudo que os dias precisam separar. Encontro em ti e nos outros aquilo que preciso, que quero e que fiz por merecer. Você que chegou primeiro... Você que veio depois... Você que engordou meu mundo... Você que acabou de entrar... Sejam bem vindos nas vinhas virtuosas do meu corpo sinuoso, no debate intrépido da minha vida móvel, no desgaste inevitável de uma vida devagar!

sábado, 24 de novembro de 2012

Canis et brasiliensis


Essas são pessoas que talvez já não existam mais. São vidas de quem o mundo há muito já se esqueceu. São infâncias roubadas à navalhas afiadas, que seguem seus caminhos morrendo um pouco a cada vez. Enquanto o dia tem mil cores e tons, à noite só resta a brutalidade da escuridão, cabendo somente à lua mudar as poucas e pequenas nuances do preto que encobre e assola as desamparadas, as fedorentas, as friorentas. São muitas, são loucas, são aflitas que na calada da noite encontram a surdez do dia em que o sol nem sempre brilha. São mulheres, são pessoas, são  inertes diante de uma violência imputada, do sangue derramado, da desesperança sem fim. Sem rastro nem resto, sem voz e sem vez, assim perseguem seu destino e destinam-se única e exclusivamente  à cegueira da contradição. 

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Vai dormir criatura púrpura do pântano nebuloso!!!!


Você que joga com penas
Que grita com letras 
Que pestaneja em vão

Eu que pelejo insone
Que vagueio incólume
Que me reviro em panos

Nós que assim vivemos
Nem assim dormimos
Nem por isso mesmo

Seguiremos fartas
De prazeres meros
Na calada fria
De uma noite apenas!!!

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Fígado


No arcabouço estrutural das minhas lembranças
O gosto se perdeu no tempo distante
Quem sou eu já não sei mais
Por que vim já nem entendo talvez

No não efêmero Yom Kipur da minha alma liberta
O gesto se achou no espaço presente
E um dia começou hoje e feliz
na certeza vã da idade incerta

No futuro inserto do mecanismo andante
O errante espera um desfecho justo
E na esperança vã do remoto asfalto
Me dirijo hoje ao saber pra sempre!